#navbar {visibility:hidden;} O projeto NEKKO: Capitulo 10 - Samurais e Camponeses

Capitulo 10 - Samurais e Camponeses


E foi aí, no antigo Japão feudal, que eles encontraram uma situação muito similar as que hoje enfrentavam suas próprias sociedades.

Os samurais no Japão feudal, não somente foram aqueles guerreiros implacáveis que a literatura trouxe até hoje, senão também, nas épocas de paz, funcionários de escritório, muita vezes encarregados também de repartir e cobrar os impostos do feudo aos camponeses que trabalhavam a terra e criavam gado.

Eles possuíam cavalos, boas roupas e sempre duas espadas (que os identificavam como classe) que eles sabiam usar como ninguém.

Para essa época estas espadas eram o máximo da tecnologia do combate.

Eles podiam tirar da bainha com um só movimento e na descida, cortar a cabeça de alguém , logo, com um elegante movimento, limpar a lamina e voltar o sabre para sua bainha num só movimento.

Este arte de "tirar da bainha, cortando" foi conhecido como Iai-Jutsu e formava parte dos treinamentos diários e de todos os planos de estudos dos samurais.

Por isso, considerando a distancia, deixar que um samurai levara sua mão até a empunhadura da sua espada, foi quase sinônimo de morte segura, para qualquer adversário.

Eles eram, no sistema feudal, depois dos governantes a casta mais treinada, culta e importante dentro da sua sociedade.

Em batalha foram quase invencíveis, mas em tempos de relativa paz, tiveram que servir seu senhores de outras maneiras, por exemplo covrando impostos, e foram perdendo treinamento pelo fato de não ter inimigos na sua altura nem necessidade de treinar constantemente para salvar suas vidas.

Os camponeses eram muito fortes em decorrência da suas atividades diárias e aos poucos foram criando e desenvolvendo estratégias cada vez mais aprimoradas dos modos de enfrentar com sucesso aos samurais que chegavam perto deles.
Por exemplo, sempre atacar de surpresa, geralmente assistidos por um comparsa, e por sobre tudo, pegar rapidamente a mão direita do samurai quando ela voava para a empunhadura de seu sabre, dentro da bainha, do lado esquerdo do corpo.

Com o samurai impedido de tirar sua espada, as coisas eram muito melhores para os camponeses, que inclusive foram desenvolvendo vários estilos de luta usando suas mãos, cotovelos, joelhos e pés ou ferramentas de trabalho como o "tonfa" ( de onde se inspirou a policia de quase todos os países, é esse bastão que levam com um pequena bola na ponta de uma saliente aproximadamente 1/4 da sua altura) que foi uma simples alavanca para rodar a moedora de grãos, ou o Bo, pão de aproximadamente 1,80 mts. que era usado pra transportar vultos sobre os ombros.

De estes sistemas, muitos deles combinados com sistemas de boxe trazidos da china, nasceram o que hoje conhecemos como Karate, Jiu-Jutsu (o precedente do moderno Judo) e por sobre tudo o Kobudo que utilizava ferramentas como armas.
Da Coreia, sempre baixo influencias dos antigos sistemas chineses se desenvolveu o tae-kyon (precedente do moderno TaeKwondo) onde se utilizavam preferencialmente os chutes.

Mas estes sistemas ainda não tinham nome nem filosofia nem escolas formais e eram transmitidos e melhorados de geração em geração visando simplesmente conservar a própria vida e tirar a do outro da forma mais eficiente possível.

Por outro lado, os samurais também precisavam atualizar seus conhecimentos e métodos para se adaptar as novas realidades.

O antigo, cavaleiro e formal estudo nos castelos para formar samurais, também precisou de ajustes para conseguir se manter com sucesso ante os avances do métodos desenvolvidos pelos camponeses.

E eles também estudaram os sistemas que não conheciam e criaram novas estratégias para lutar com gente que não deixava que sua espada saíra da bainha com tanta facilidade.

Iniciaram pelo fato que uma vez que sua mão, tivesse chegado ou não até o sabre) foi tomada pelos fortes camponeses, ficar tentando se livrar pela força, não trazia nenhum resultado e além disso, nessa distancia é impossível tirar a espada da bainha, e também é muito provável que ficaram dentro do radio de ação dos punhos, mãos e cotovelos de seus atacantes.

Eles também sistematizaram estes sistemas e foram eles quem misturando com sistemas de treino e exercícios fundamentalmente respiratórios, herdados dos sistemas chineses e de seus próprios sistemas de treinamento com espadas foram criando o que passou até hoje como artes Marciais.

Pronto souberam que não era bom fazer força, que era melhor acompanhar até que a força do outro acabasse, mantendo o equilíbrio e a distancia justa para logo conduzir ao outro até o desequilíbrio primeiro e a derrota depois, seja isto tirando a espada ou simplesmente usando, seus mãos, agora também treinadas como a de seus adversários.

Mas a tarefa de manter a distancia, o relaxamento, a respiração e a postura em momentos de extrema violência ( eram lutas mortais pelo geral) requeria muito treinamento e além disso estratégia e estabilidade espiritual, por tudo isso logo as Artes Marciais seriam influenciadas pelos monges do Budismo Zen e os Shintoistas ( antiga tradição do Japão) , como na China o boxe foi influenciado pelos taoístas.

A seguinte história, encontrada do V-histo em inúmeros documentos e manuais de luta de essa época, resume perfeitamente que coisa se esperava de um samurai ou um Artista Marcial.



Bokuden, grande mestre de sabre, recebeu um dia a visita de um colega.
Com a finalidade de apresentar seus três filhos para seu amigo, e que pudessem exibir o nível que haviam alcançado seguindo seu método, Bokuden preparou uma pequena estratagema: colocou um balde sobre a borda superior da porta, para que caíra sobre a cabeça de aquele que entrara na habitação.
Sentado com seu amigo, ambos frente à porta, Bokuden chamou seu filho maior. Quando este chegou frente à porta, parou em seco. Despois de haver-la apenas aberto pegou o balde antes de entrar. Entrou, fechou detrás dele, volveu colocar o balde sobre a borda da porta e cumprimentou aos Mestres.
- Este é meu filho maior -diz Bokuden sorrindo-. Já tem alcançado um bom nível e esta no caminho para ser um Mestre.
Depois, chamou seu segundo filho. Este deslizou a porta e começou entrar. Esquivando apenas o balde que estive perto de cair sobre seu cabeça, conseguiu pegar-lo no ar.
- Este é meu segundo filho -explicou Bokuden ao convidado-. Ainda tem um longo caminho que percorrer.
O terceiro entrou de forma precipitada e o balde caiu pesadamente sobre sua cabeça, mas antes que tocara o chão, tirou da bainha seu sabre e quebrou o balde em dois partes.
- E este -falou o Mestre- é o caçula. É a vergonha da família, mas ainda é jovem.


Conto tradicional de apoio ao ensino do arte do sabre nas antigas escolas do Japão.